Visita de Estudo de Questões Ambientais à região de Castro Verde
Foi na manhã do dia 13 de abril, com a expectativa de chuva, que iniciámos a visita à região de Castro Verde. Fizemos uma breve paragem em Canal Caveira para o pequeno-almoço.
O concelho de Castro Verde é terra de minas, dos “castella” (postos romanos de controlo de território) e de cenário da lendária batalha, que opôs D. Afonso Henriques aos cinco reis mouros, no local de S. Pedro das Cabeças.
É terra de pastos fartos e de transumância dos gados que vinham do norte do país e de Espanha.
Planície ondulada, a perder de vista, Castro Verde terra de gentes orgulhosas, de uma identidade forte e marcada, chamados de “campaniços”, do cante e da vida campaniça.
É terra com uma paisagem dominada pela cerealicultura, que abriga um vasto património natural, integrado na Zona de Protecção Especial, caracterizada por ser habitat de aves como a betarda ou o sisão.
Em pleno “campo branco” nome dado à estepe cerealífera mediterrânica ou pseudo-estepe, de terras claras, é um ecossistema que se caracteriza pela quase ausência de árvores, mas com uma rica fauna avícola.
Por tudo isto Castro Verde merece uma visita demorada e atenta.
Iniciámos a nossa visita no Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho. A Liga para a Protecção da Natureza desenvolve um trabalho de conservação da natureza, com a colaboração de agricultores, caçadores para a defesa do meio ambiente e desenvolvimento e agricultura sustentável, investigação científica, ecoturismo e educação ambiental.
A intervenção da Liga foi essencial para impedir a perda do habitat, sobretudo das aves: betarda, sisão, peneireiro das torres e da águia imperial; da conservação do saramugo (peixe da bacia do Guadiana; e dos charcos temporários.
Este trabalho tem o princípio de corresponsabilidade na gestão dos recursos e dos valores naturais, com ações como o “cuidar”, o “respeitar”, o “partilhar”, o “envolvimento” e o “compromisso”. Envolvendo os cidadãos, proprietários agrícolas, entidades, entre as quais empresas, escolas, universidades, autarquias e organizações governamentais e não-governamentais.
Isto tudo permite a protecção dos habitats que podem ser desfrutados por todos. Por isso são efetuadas ações de sensibilização ambiental para o público em geral, para as escolas, visitas de inúmeros turistas, que criam blogs, publicando textos, mapas, fotos, rotas e que conseguem transmitir as informações, boca a boca.
Isso tem possibilitado a vinda do ecoturismo com observação de aves, dos espaços, percursos pedestres, fotografias, num equilíbrio com a natureza, permitindo uma referência nacional e internacional.
Depois deste enorme “banho” de conhecimento, continuámos a nossa visita em Entradas, que tem a sua origem no facto de ser a entrada dos Campos de Ourique, demandados por rebanhos transumantes, em busca de pastos de Inverno.
Dirigimo-nos ao Museu da Ruralidade, que é um depósito dos elementos mais significativos da identidade local, nomeadamente para a cultura imaterial.
É a casa mãe de um projeto que procura mostrar a realidade da zona até aos anos sessenta, quando se deu a emigração e se verificou a desertificação da zona.
Mostra um percurso com memórias da ruralidade, onde estão patentes máquinas, alfaias agrícolas, objectos ligados aos cereais, sobretudo, trigo, milho e cevada.
O Museu tem uma exposição permanente dessas máquinas e objectos ligados ao cereal, reproduzindo, assim, a sua importância no mosaico cultural: arado, charrua, debulhadora, selecionador de sementes, descarolador, palhuço do pastor, enfardadeira geral de molas, picadeira, grade de bicos… a cada peça liga-se a história de vida de uma pessoa: ferreiro, abegão, caldeireiro, carpinteiro…
Existe ainda uma exposição de caraças, projeto de criação de máscaras, a partir das quais se parte à descoberta de um pouco da estória de cada um, que é a nossa história. È comum festejar-se o Carnaval onde se cruzam grupos corais, oficinas de danças do mundo, baile e muita animação.
Ainda foi possível observar-se uma exposição temporária de insectos, onde é possível identificar a diversidade da flora e da fauna da região, através dos insectos, concluindo que esta recolha deu para perceber a diversidade, origem e relação cultural dos insectos que aqui passavam.
O Museu da Ruralidade tem ainda outros polos, nomeadamente: Pólo dos Aivados, Pólo da Oralidade (tendo como pano de fundo a Feira de Castro e a vida campaniça).
Após esta visita era hora de reconfortar o estômago e dirigimo-nos ao Restaurante “Seara”, onde fomos presenteados com uma saborosa refeição, num ambiente descontraído, agradável e simpático.
No final da refeição iniciámos a tarde de visita no Museu da Lucerna, que nos oferece uma colecção única de lucernas (candeias de azeite), da época romana, descobertas em Santa Bárbara dos Padrões.
Esta colecção permite mostrar ao público, um conjunto único desses utensílios de iluminação, o maior do mundo (cerca de mil), decorados com os mais diversos motivos, desde cenas da vida quotidiana, mitologia, passando por representações de animais, jogos, flora.
Fomos depois para o “ex-libris” de Castro Verde, a Basílica Real, um templo imponente, construído no século XVIII. No seu interior mereceu a nossa atenção o altar-mor, revestido a talha dourada e o conjunto de painéis de azulejos do século XVIII, que retratam a Batalha de Ourique, episódio lendário ligado a fundação da nacionalidade.
Pode ainda ver-se na Basílica Real, o Tesouro da Basílica, núcleo museológico de arte sacra, onde se pode apreciar o Cabeça-Relicário de São Fabião (Casével), a Cruz Processional, a Custódia Barroca, lavrada em prata e banhada a ouro, a Imagem de Nossa Senhora da Esperança, S. Miguel Arcanjo, São Pedro (peça em madeira com 450 anos), a Imagem de Santa Bárbara (com 500 anos) e vitrinas com: coroas, ex-votos, rosário, crucifixo, missal, variadas peças (âmbulas dos santos, óleos, porta viático, cofre e cálices.
No final da visita, os mais afoitos subiram ainda cerca de 96 degraus da Torre da Basílica, com uma panorâmica espectacular, até onde a nossa vista alcançou.
Por último visitámos a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios que é também conhecida como Igreja das Chagas do Senhor (nome que provem da lenda em que naquele local vivia um eremita que anunciou a Dom Afonso Henriques a aparição de Cristo e a vitória na Batalha de Ourique.É sob este templo Cristão mandado erguer por Dom Afonso Henriques, que nos finais do século XVI é mandada construir a atual Igreja por Dom Filipe II, visto a anterior se encontrar completamente degradada, sendo a sua construção paga através de verbas da centenária Feira de Castro.
Terminámos a nossa visita com uma foto de grupo e regressámos à Amora, satisfeitos com o excelente convívio, convictos da importância destas visitas e culturalmente muito mais ricos.
Texto de Maria José Gonçalves
Video e fotos de BM/A. Maia
Sem comentários ainda